quarta-feira, 7 de setembro de 2005

O Turismo e as retretes

A maior diferença, e talvez aquela que melhor define o nosso turista Português e o distingue de todos os outros, é o facto de ele ter de tocar em tudo ao mesmo tempo que fala num tom acima dos 210 decibéis. Já assistimos a vários exemplos deste fenómeno, que hoje narramos aqui.


1- Com o Verão já a meio-gás, a nossa perplexidade mantém-se quando constatamos as diferenças entre os turistas das diferentes partes do mundo e o nosso turista continental, ao qual, carinhosamente, resolvemos chamar “Português”.
As diferenças começam de baixo para cima. No calçado, o Português distingue-se logo dos demais pelo facto de não usar meia branca com chinela ou sandália. Não senhor! O nosso turista prefere a sandália em contacto directo com a pele, pois assim consegue matar dois coelhos com uma só cajadada: primeiro obtém um eficaz arejamento dos pés e, além disso, consegue afugentar as moscas e os mosquitos com o odor que emerge dos buracos das sandálias.
Continuando a subir, também nas pernas há diferenças... os outros turistas têm muito poucos pêlos nas pernas. Já o Português tem mais pêlos só na perna esquerda do que os outros turistas têm no corpo todo. Isto para não falar de outras zonas nas quais também tem pêlos que nunca mais acabam, como por exemplo no... no coiso, no... no nariz. Claro que se exceptuam algumas nórdicas que só nos sovacos têm mais “tufo” do que o português na perna esquerda, capaz mesmo de enrodilhar e gastar o fio do melhor aparador de relva da Black&Decker.
Mas a maior diferença, e talvez aquela que melhor define o Português e o distingue de todos os outros turistas, é o facto de ele ter de tocar em tudo, ao mesmo tempo que fala num tom acima dos 210 decibéis.
Já assistimos a vários exemplos deste fenómeno. Ainda no outro dia estávamos a caçar gambozinos nas Cal-deiras das Furnas, quando vimos um belíssimo exemplar no seu estado mais natural: camisa aberta, pêlo no peito, fiozinho de ouro, bigode, barriguinha, careca e unha de limpar os ouvidos. E dizia ele:
“Ó Aldina” - que era a mulher - “o guia diz que estes buracos são muito quentes!”
“Ó! Não são nada.” - diz ela a assobiar os “SS”.
“São, são, olha... ‘tou a botar a mão num e ela já está a ficar toda pelada! Ah que giro, é mesmo quente!”
“Já biste Tónio? Afinal o que o homem dizia era mesmo verdade: o buraco é mesmo quente.”
“Olha, tira uma foto que é para a gente mostrarmos à bizinha a temperatura disto”
“Ah… que pena, essa ficou com o fumo à frente…. Vou tirar outra! Psst, Sr. guia, será que podia soprar no fumo a ber se não sai na foto?”
Ou ali para os lados das Sete Cidades:
“Esta aqui é uma Juniperus brevifolia, é uma espécie endémica muito rara”, - diz o guia.
“Ó Manéla, o homem diz que essa flor aqui é muito rara, não é tão bonita?”, constata o marido ao arrancar a planta.
“Traz um pezinho para gente plantarmos no nosso terraço… e traz de vez outro para a gente darmos à tua irmã Carlota que ela gosta muito de flores. Ai que os Açores são tão lindos!”

2- Para além do turismo, também as festas e festivais fazem parte do Verão. Esta é a época dos grandes espectáculos, é o Festival do Sudoeste, Zambujeira do Mar, o Vilar de Mouros, a Maré de Agosto, etc. Estávamos num destes Festivais e reparamos naquelas casas de banho azuis, aquelas portáteis sempre tããão higiénicas, e o nosso cérebro, sempre a fervilhar de ideias, lembrou-se: É uma empresa que aluga aquelas casas de banho para Festivais, concertos, casamentos, baptizados, funerais, enfim, para qualquer sítio onde se junte muita gente com vontade de fazer chichi, não é? Pensamos logo a seguir, quem terá inventado esta empresa? Não sabemos quem foi, mas deve ser o orgulho dos pais. “Ah, o meu máivelho é advogado, o do meio é engenheiro, e o máinovo aluga retretes… é a luz dos meus olhos, aquele petchéno!”.
In Azórica nº 16, Jornal dos Açores, Edição de 3 de Setembro, 2005

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