sábado, 8 de outubro de 2005

Autárquicas e justiça "cegas"


Reparamos, de forma inédita, que o que mais se destacam em quaisquer eleições são as promessas. Os candidatos podem prometer o que bem lhes der na tola, desde que o façam num tom decidido, com um punho cerrado no ar, de preferência o direito, e a espumar ligeiramente da boca.

1- Com as autárquicas a todo o vapor, fomos lendo e ouvindo atentamente os discursos eleitorais. Reparamos, de forma inédita, que o que mais se destacam em quaisquer eleições são as promessas. Os candidatos podem prometer o que bem lhes der na tola, desde que o façam num tom decidido, com um punho cerrado no ar, de preferência o direito, e a espumar ligeiramente da boca.
Imaginem um candidato frente a um microfone, com o povo lá em baixo e os simpatizantes com as bandeirinhas e tal. Ele diz convictamente: “Prometo ainda potenciar a vertente (g)astronómica das Feteiras, construindo uma base de pizza lunar e uma rampa de lançamento de vaivéns espaciais ao lado da Junta de Freguesia, como estratégia de acção social para ajudar os idosos. O actual presidente nunca quis saber dos idosos, nunca!” E as pessoas aplaudem fervorosamente. É que realmente era bom ter uma rampa de lançamento do que quer que fosse…

2 - As eleições para as autárquicas, desculpem-nos os outros actos eleitorais menores para a presidência ou governo, são o que de melhor a nossa democracia tem. É bonito ver, por exemplo, em Salvaterra de Magos, um pai que foi do PS a concorrer pelo PSD e um filho que foi PSD a concorrer como independente pelo PS para a presidência de uma junta de freguesia. Achamos que o historial político da família era esse, mas se for ao contrário também não faz mal nenhum. Não há que haver confusão. E o povo também não tem que se preocupar com a escolha. Os candidatos têm os mesmos genes, a mesma fibra e a mesma coerência ideológica. Seja qual for o resultado, certamente haverá festa naquela família. O povo da freguesia, de qualquer das maneiras, terá sempre aquilo que ambos prometeram: sejam os fornos para os “cidadões” cozerem os seus “pões”, sejam as “istradas”, ou ainda um campo de relva sintética cimentado. Isto sim é que é democracia.

3 - Parece que os tribunais vão paralisar dois ou três dias devido à greve dos magistrados superiores, dos juízes e dos funcionários judiciais. Muitos criticam esta paralisação, mas afinal de contas só são mais 2 ou 3 dias … duma paralisação que já dura há anos. Uns dizem que, sendo os tribunais um órgão de soberania, esta greve é um mau exemplo, carece de legitimidade e fere a constituição. Ora não partilhamos desta visão e até achamos que os restantes órgãos de soberania também deviam ter o direito de fazer greve: o governo devia fazer greve porque o país não lhe dá condições, o Sr. Presidente devia fazer greve porque ninguém lhe dá atenção e a assembleia da República devia fazer greve porque ninguém ia dar por isso.
Outros ainda acrescentam, “Ah, não sei o quê, isso é mau para o prestígio dos tribunais…eles vão dar um tiro nos pés”. Qual quê? Mais um tirito no pé a acumular a tantos outros não é desprestígio…isso é vitalidade, coragem e carácter. Mais, por acaso pensam que esses magistrados iam partir para uma greve se não estivessem convencidos do grande prestígio, poder e independência que a justiça detém no nosso país? Claro que não! A sua imagem está melhor do que nunca. Que o diga a Fátima Felgueiras, uma figura também ela de prestígio que tem muita consideração pelos tribunais e que gosta muito do nosso sistema judicial. Se assim não fosse não teria vindo ao seu encontro, se não o respeitasse ou se desconfiasse dele, certamente não seria livre… talvez só “imune”.

In Azórica nº 21, Jornal dos Açores, Edição de 08 de Outubro, 2005

2 comentários:

mfc 13/10/2005, 15:29:00  

Este país é uma paródia... grande fonte de inspiração, hein??!!

RD 18/10/2005, 13:18:00  

Vejam-me que 4!
Não sabia desta vossa faceta croniqueira. :)
As minhas desculpas por não ter acompanhado a seu devido tempo, mas estive fora da nave espacial «S.Miguel» por uns tempos.
Agora que já sei onde vos posso ler, já não compro o jornal para ler a revista.
Beijos e abraços. ;)

ps: parabéns pela ideia e continuem que está muito giro!

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