Adeus Artur
Há momentos em que temos de parar para pensar naquilo que nos move e qual o sentido disto tudo a que chamamos vida. Há figuras conhecidas do grande público que na hora da sua morte são lembradas em virtude dos seus feitos enquanto vivos. Há, depois, as nossas "grandes figuras", aquelas que para nós são a verdadeira referência e que não mais as esqueceremos pelos momentos que nos proporcionaram quando com elas convivemos. Refiro-me aos amigos, àqueles amigos que incorporam as maiores virtudes que o ser humano pode ter, àqueles amigos puros, de coração aberto, de beleza interior, de bondade extrema… àqueles amigos cuja constituição genética é imune à inimizade…cuja alma é tão grande e tão presente, tal qual a luz que nos ilumina, que nem necessitamos de sobre ela reflectir. Entramos em choque quando essa luz nos falta!
Morreu o meu amigo Artur Boavida Madeira… na sua juventude … estava a preparar a sua tese de doutoramento sobre “População e Emigração Açoriana no séc. XIX”… a finalizar longos anos de trabalho intenso… dedicado à investigação histórica destas ilhas e à Universidade dos Açores.
O Artur estava sempre presente… mas não se notava … estava sempre ali junto de nós e quando ausente, ainda que momentaneamente, todos perguntavam: “onde está o Artur?!... ELE vai dar uma ajuda!” E isto era afirmado com uma crença inabalável porque o Artur ajudava sempre.
Recordo-me de recentemente lhe ter ido bater a casa para me emprestar uns livros … estava embrenhado no trabalho que dia e noite o acompanhava… não queria que ninguém o incomodasse … na recta final do seu trabalho… excepção aos amigos próximos…
Célebre ficará aquela história engraçada… quando no ano lectivo de 1991/92, leccionávamos na mesma escola. Numa 6ª feira, ao fim da tarde, cruzámo-nos no caminho, vinhas tu Artur, na altura orientavas estágio, com um outro nosso grande amigo, o Jorge Marques, teu estagiário… Acabavam de finalizar a “Semana de História” da escola e vinham satisfeitos com o sucesso. Trocámos umas conversas um pouco sem nexo, divertidas por isso mesmo, que me levaram a deduzir que os dois já tinham estado nos copos… e então “despachei-vos” a sorrir, pois eu tinha que ir dar as aulas ao nocturno. Passada hora e meia, estava em plena aula, batem à porta. Fui abrir, pensando ser algum funcionário da escola. Eras tu e o Jorge…cheios de sorrisos! Para mim confirmava-se: só podiam estar com os copos para me virem incomodar à aula. Lá consegui que se fossem embora. No outro dia encontrámo-nos de novo e tu perguntaste: “Ontem conseguiste dar bem a aula?” Respondi que sim, apesar de ter que despachar dois embriagados! Ele respondeu-me “Embriagados?!...Tu é que estavas com uma grande “bezana” e nós só fomos ver como te estavas a safar!"
Afinal eles deduziram de mim aquilo que eu deduzi deles! Afinal estávamos todos sóbrios… tão sóbrios, felizes, sorridentes e bem-humorados… que até parecia que tínhamos andado nos copos!
A tua alma, Artur, era mesmo grande… ficámos em estado de choque, mas a luz que irradiavas continuará … porque a marca que nos deixaste, o exemplo de vida que nos deste ficarão para sempre a iluminar o nosso coração e a nossa memória.
Adeus, Artur!
Não me vou esquecer nunca do nosso almoço anual nas vésperas do Natal… em minha casa … com o Macedo e o Tino!
Ficarás sempre na nossa lembrança!
El Greco
7 comentários:
Um abraço do Luis Pianista
Um abraço do Luis Pianista
O texto é feliz e justo, Gregório. A nossa percepção do Artur era de alguém disponível e para nós também o foi. Desejamos que a sua partida seja tranquila e que "regresse" com a mensagem de paz que tinha e que tanto precisamos para vivermos mais e melhor. Bem haja, dos amigos Andreia e Jorge.
Até sempre
Rui Lixa
Foi com emoção que li o texto escrito.
Não há nada a dizer...
Obrigado a todos os que o ajudaram a ter momentos felizes e responsaveis também pelo prazer de viver nessa Ilha.
Espero conseguir dar seguimento ao esforço dele, nestes longos anos.
Dulce Madeira
(Irmã)
Foi com emoção que li o texto escrito.
Não há nada a dizer...
Obrigado a todos os que o ajudaram a ter momentos felizes e responsaveis também pelo prazer de viver nessa Ilha.
Espero conseguir dar seguimento ao esforço dele, nestes longos anos.
Dulce Madeira
(Irmã)
Obrigada, Dulce, por me ter dado o endereço deste blog, e por ter podido ler as palavras dos amigos do Artur.
Já os conhecia, de nome. Mas por razões especiais,é no Pedro Brito(o único que conheci pessoalmente),que "revejo" todos os que foram seus amigos. E bem hajas, Pedro, por toda a ajuda que me deste.E a si, Dulce, pelo carinho que me tem dado.
Até um dia destes, Artur.
Fernanda
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