terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Corrida Presidencial

Os Açores já foram granjeados com as visitas de alguns candidatos à Presidência da República, o Professor Cavaco Silva, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça. Por enquanto, Mário Soares ainda não veio à Região. Ao que parece, muitos açorianos estiveram na guerra do Ultramar, daí que o candidato esteja relutante em pôr cá os pés…


Esta foto foi-nos entregue pelo próprio candidato aquando a sua visita à Região - posterior à presente crónica. Como os leitores poderão ver, o candidato revela um amplo conhecimento humanista ( o ser humano na sua mais bela expressão), cultural e científico (imitação de Einsten, numa alusão clara à comemoração do ano Internacional da Física que agora termina)
1- Seis de Dezembro, Aeroporto João Paulo II, 19h40, voo da Terceira, chegava uma das nossas mulheres. Qual o nosso espanto quando encontrámos uma pequena multidão à frente da porta de desembarque. Até ai tudo bem, não fosse o facto da indistinta multidão começar a bater palmas, mesmo na altura em que a porta se abriu e ela apareceu. Não fazíamos ideia que fosse tão conhecida. Sabíamos que era séria, honesta e competente, mas daí a ser (re)conhecida por uma multidão de gente incógnita, diríamos mesmo que de uma forma mediática, isso nunca imaginámos.
Por coicidência, logo atrás dela, vinha o candidato à Presidência da República, o Professor Cavaco Silva. Assumido defensor das autonomias, “um motivo de orgulho para todos os portugueses” – exceptuando para alguns economistas mais rigorosos -, Cavaco elogiou os obreiros do projecto autonómico e reconheceu os benefícios da estabilidade política nos Açores.
Falou em momento de crise no país, “situação que não é normal” – mas como assim? Desde que somos história, o normal foi sempre estarmos em crise! Pronto, ele é que é o economista! – e portanto há que “mobilixar” os portugueses e aumentar-lhe os índices de (des)confiança.

2- Mais optimista está o camarada Jerónimo de Sousa – que também passou por cá em campanha -, afirmando que “há muitos portugueses que ainda não se decidiram…está tudo em aberto”. Dai que “há que ter esperança …é preciso não repetir soluções gastas”. Está tudo dito! Isto galvaniza! Privilegiando o contacto directo com o povo, o camarada veio “captar o voto açoriano”. Recebido em audiência, parece que, inclusive, tentou captar o voto do presidente do Governo Regional.

3- Para nos ver “olhos nos olhos” Francisco Louçã também nos visitou, acusando as outras candidaturas de tentarem evitar o debate sobre a situação do “país real”– cometendo logo aqui uma gaffe, pois não existe “país real”, aliás, o nosso país não existe mesmo. Louçã acrescentou que as outras candidaturas tentam uma " impermeabilização do debate político" o que é um "artifício e uma ofensa à democracia". Enfim, “se ao menos essa impermeabilização nos protegesse da chuva!”, acrescentaríamos nós.
Sobre a Europa, “nem uma palavra”, e nesse aspecto “todos deviam apresentar uma visão de Portugal no mundo”. Pois aí é que está o problema: como é que é possível apresentar uma “visão no mundo”, de um país que não existe ou que, pelo menos, não parece ser deste mundo? Não seria mais fácil o país - pronto, já se sabe que não existe - mas não seria mais fácil esse país, vá lá “irreal”, apresentar ao mundo uma visão ideal de um candidato presidencial ?

4- Por enquanto, Mário Soares ainda não veio aos Açores. Ao que parece, muitos açorianos estiveram na guerra do Ultramar, daí que o candidato esteja relutante em pôr cá os pés… Quanto a Manuel Alegre, o poeta, esse até o “vento que passa” o traz até nós, de forma “transversal”, livre no pensamento, independente na acção, pronto para a renovação e cheio de ideias novas – ouviste avô Mário “ideias novas”?! A propósito, dizem que o debate entre os dois foi “bem vivo” – daqui a algum tempo se calhar não poderíamos dizer o mesmo – e “duro” …só se for de roer – isso acontece muito nos velhotes! Falaram em coisas banais, experiência e consistência, ou falta delas…mas qual a diferença entre os dois? Onze anitos?! Bem, isso é alguma coisa! Não há dúvida, Alegre está melhor colocado… não viram que no fim falou às mulheres? Deve estar com mais vigor! Só pode!
In Azórica, Nº 31, Jornal dos Açores, Edição de 17 Dezembro, 2004

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