sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

Natal, saldos e pensões

Crise, qual crise? A árvore gigante montada na Praça do Comércio, em Lisboa, representa o equivalente a um prédio de 23 andares e tem mais dez metros do que a que foi instalada o ano passado em Belém. Quem disse que estávamos na cauda da Europa, hein?
1- Temos a maior árvore de natal da Europa. É verdade, Portugal é oficialmente o país com o mais forte espírito natalício e o único que continua a acreditar tão piamente no Pai Natal (é só olhar para os candidatos presidenciais).
Os cerca de 500.000 desempregados que deambulam pelas nossas ruas agora já têm algo com que se entreter, podem ir ajudar a enfeitar a árvore ou, quiçá, simplesmente apreciá-la. Os nossos alunos já não precisam de se preocupar com os débeis níveis da educação, podem orgulhar-se da árvore de natal portuguesa. E professores, esqueçam as greves, para quê? Nós temos uma árvore de natal com 72 metros de altura.
Crise, qual crise? A árvore gigante montada na Praça do Comércio, em Lisboa, representa o equivalente a um prédio de 23 andares e tem mais dez metros do que a que foi instalada o ano passado em Belém – que, como sabem, é o local onde Cristo nasceu…
Que país este, sempre a crescer! Quem disse que estávamos na cauda da Europa, hein? Nós estamos muito para além das estrelas!

2- Por falar em época natalícia, os portugueses este ano têm menor poder de compra do que no ano passado. Vamos sugerir-vos uma pequena ideia que tivemos. Caros leitores, porque não alterar o Natal para o dia 25 de Janeiro?
Se ainda não é óbvio, explicamos porquê. É a época dos saldos. Porque havemos de pagar 35 euros por uma camisola para oferecer no dia 25 de Dezembro ao primo que dá sempre meias e cuecas compradas nos chineses, se podemos pagar 10 euros pela mesma camisola para oferecer no dia 25 de Janeiro ao primo que tornará a dar as mesmas meias e cuecas compradas nos chineses? É uma questão simples de economia.
Vá, vamo-nos todos boicotar às compras de natal este ano e adiar o nascimento do Salvador um mesito. Aposto que ele nem se importava muito…

3 – Extraordinária é também a notícia de que Portugal tem o melhor sistema de pensões da Europa a 15, de acordo com o barómetro de pensões europeu elaborado pela Aon…uma empresa daquelas de estudos e consultadoria e o camano! “Aon de?”, perguntarão os leitores. Leram bem: Portugal! O estudo conclui que o nosso país está em primeiro lugar, como o mais favorável, devido à taxa de crescimento da população – conceito que não entra em contradição com a diminuição da natalidade e com o fenómeno do envelhecimento populacional. Aliás, a propósito, os velhotes agora foram obrigados a rejuvenescer por decreto pelo que os “novos” padrões de trabalho (até idades mais tardias), também contribuem para a surpreendente conclusão, a par da sustentabilidade das pensões. No entanto, uma empresa rival, Watson Wyatt, já veio por em causa essa conclusão, afirmando uma coisa inconcebível: “o cenário do sistema de pensões português não é muito favorável”. Mas afinal em que é que ficamos? Temos, ou não temos, sustentabilidade? Será que o nosso país é mesmo assim tão difícil de se estudar? Somos mesmo os maiores! A nossa (im)previsibilidade e a nossa “insustentável leveza do não ser” deixa qualquer estudioso estupefacto, sem saber o que concluir com rigor!
4 - Outra novidade para animar o nosso ego: Portugal vai ter a seu cargo a organização do Lisboa-Dakar. Como foi isso possível?! Muito simples, nós somos bons a organizar coisas – grandes churrascos para o Guiness, feijoadas, etc – e se fosse o Paris-Dakar, os pilotos sujeitavam-se a iniciar a prova com as viaturas carbonizadas … Bolas este assunto é mesmo “incendiário”! Por falar nisso, os D’ZRT actuam hoje no Coliseu (não está por aí nenhum?)
In Azórica nº 28, Jornal dos Açores, Edição de 26 de Novembro, 2005

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