Os eufemismos da vida
Os eufemismos são casos notáveis da língua portuguesa. São, por assim dizer, uma forma de tornar mais suave, mais bonita, ou mais importante, coisas que não o são. Por exemplo, um "trolha" eufemisticamente pode ser chamado de "mestre-de-obras", um "taxista" transforma-se num "condutor de praça"... Qualquer dia os "repatriados" passarão a chamar-se "técnicos de esfaqueamento e deglutição de álcool e tabaco cravados".
1- Os eufemismos são casos notáveis da língua portuguesa. São, por assim dizer, uma forma de tornar mais suave, mais bonita, ou mais importante, coisas que não o são. Existem três tipos de eufemismos (esta já é a parte em que estamos a inventar): os eufemismos de suavização, os de embelezamento e os de promoção.
Mas, melhor do que estar a tentar explicar é dar alguns exemplos.
1.1- Assim, temos em primeiro lugar os eufemismos de suavização. São casos em que se procura suavizar algo muito mau, tipo: o médico, apercebendo-se que o paciente tem uma doença mortal, pode dizer "Olha pá, lixaste o fígado todo por causa do tinto, por isso encomenda o caixão que vais morrer", ou então, podia utilizar este tipo de eufemismo, o que resultaria da seguinte forma: "Meu caro, temo que as quantidades de álcool que foi ingerindo ao longo da sua vida lhe alteraram a funcionalidade hepática e isso irá conduzi-lo a um estado em que o seu coração parará" - muito mais suave!
1.2- O segundo tipo, os de embelezamento, surge, por exemplo, quando uma pessoa vai ao cinema ver um filme foleiro (ou seja, do Joaquim de Almeida) e diz "Esta película não me fez sorrir e, por conseguinte, parece-me pertinente compará-la a uma pilha de dejectos de bovino", em vez do usual "Este filme não teve piada nenhuma. É uma boa bosta!" - muito mais bonito.
1.3- Finalmente, os de promoção, são aqueles eufemismos em que se promove uma pessoa, um emprego, ou outra coisa qualquer. Por exemplo, um "trolha" eufemisticamente pode ser chamado de "mestre-de-obras", um "taxista" transforma-se num "condutor de praça", um "polícia" é agora um "agente da segurança e da autoridade"... Qualquer dia os "repatriados" passarão a chamar-se "técnicos de esfaqueamento e deglutição de álcool e tabaco cravados". Pior, pior, só mesmo se um dia destes começarem a chamar aos Tunalhos actores ou cronistas.
2- Depois desta lição, os leitores facilmente aplicarão os eufemismos a quase tudo nas suas vidas, incluindo mesmo nos ditados populares. Por exemplo, em vez de “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, poder-se-ia dizer “Expõe-me com quem deambulas e a tua idiossincrasia augurarei”.
Conhecem o “Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”. Não ficaria melhor se fosse “Espécime avícola na cavidade metacárpica supera os congéneres revolteando em duplicado”. Pois, também achamos que sim.
E que tal “Descendente de espécime piscícola sabe locomover-se em líquido inorgânico”, que é como quem diz “Filho de peixe sabe nadar”? Ficava giro, não ficava? Ou até, para concluir, “Quem movimenta os músculos supra faciais mais longe do primeiro, movimenta-os substancialmente em condições excepcionais”, que é o mesmo que dizer “Quem ri por último ri melhor”…
E é assim a vida!
1- Os eufemismos são casos notáveis da língua portuguesa. São, por assim dizer, uma forma de tornar mais suave, mais bonita, ou mais importante, coisas que não o são. Existem três tipos de eufemismos (esta já é a parte em que estamos a inventar): os eufemismos de suavização, os de embelezamento e os de promoção.
Mas, melhor do que estar a tentar explicar é dar alguns exemplos.
1.1- Assim, temos em primeiro lugar os eufemismos de suavização. São casos em que se procura suavizar algo muito mau, tipo: o médico, apercebendo-se que o paciente tem uma doença mortal, pode dizer "Olha pá, lixaste o fígado todo por causa do tinto, por isso encomenda o caixão que vais morrer", ou então, podia utilizar este tipo de eufemismo, o que resultaria da seguinte forma: "Meu caro, temo que as quantidades de álcool que foi ingerindo ao longo da sua vida lhe alteraram a funcionalidade hepática e isso irá conduzi-lo a um estado em que o seu coração parará" - muito mais suave!
1.2- O segundo tipo, os de embelezamento, surge, por exemplo, quando uma pessoa vai ao cinema ver um filme foleiro (ou seja, do Joaquim de Almeida) e diz "Esta película não me fez sorrir e, por conseguinte, parece-me pertinente compará-la a uma pilha de dejectos de bovino", em vez do usual "Este filme não teve piada nenhuma. É uma boa bosta!" - muito mais bonito.
1.3- Finalmente, os de promoção, são aqueles eufemismos em que se promove uma pessoa, um emprego, ou outra coisa qualquer. Por exemplo, um "trolha" eufemisticamente pode ser chamado de "mestre-de-obras", um "taxista" transforma-se num "condutor de praça", um "polícia" é agora um "agente da segurança e da autoridade"... Qualquer dia os "repatriados" passarão a chamar-se "técnicos de esfaqueamento e deglutição de álcool e tabaco cravados". Pior, pior, só mesmo se um dia destes começarem a chamar aos Tunalhos actores ou cronistas.
2- Depois desta lição, os leitores facilmente aplicarão os eufemismos a quase tudo nas suas vidas, incluindo mesmo nos ditados populares. Por exemplo, em vez de “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, poder-se-ia dizer “Expõe-me com quem deambulas e a tua idiossincrasia augurarei”.
Conhecem o “Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar”. Não ficaria melhor se fosse “Espécime avícola na cavidade metacárpica supera os congéneres revolteando em duplicado”. Pois, também achamos que sim.
E que tal “Descendente de espécime piscícola sabe locomover-se em líquido inorgânico”, que é como quem diz “Filho de peixe sabe nadar”? Ficava giro, não ficava? Ou até, para concluir, “Quem movimenta os músculos supra faciais mais longe do primeiro, movimenta-os substancialmente em condições excepcionais”, que é o mesmo que dizer “Quem ri por último ri melhor”…
E é assim a vida!
In Azórica nº 43, Jornal dos Açores, Edição de 11 de Março, 2006
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